O caminho de nossos antepassados

O caminho de nossos antepassados, é um sinal para nós, os filhos!!!

 

Certa vez, na véspera de Shabat na casa de uma das mais renomadas famílias da cidade, um dos familiares anunciou em voz alta: “Senhores e senhoras!!!, em dois minutos devemos acender as velas de Shabat!!!”. O chefe da família lhe impediu de que continuasse o anúncio e disse com calma e tranquilidade que este anúncio é um pouco assustador e cheio de pressão. Ele anunciaria da seguinte forma: ” o acendimento das velas é em dois minutos…”. deve ser ressaltado, que esta conversa foi feita, um minuto antes da entrada de Shabat …

 

Consta no tratado de Shabat (capítulo 2 mishná 7): “Três coisas a pessoa deve dizer em sua casa na véspera do Shabat, antes do pôr do sol: … acendam as velas!!!”. O Talmud trouxe as palavras de Raba bar Rav Huna sobre este trecho: isto deve ser dito com calma e tranquilidade, para que os familiares recebam suas palavras”.

 

O livro de Bereshit, trata em sua maioria, sobre os acontecimentos de nossos patriarcas. A observação dessas ações nos apresenta um desafio. Por um lado, estamos a milhares de anos-luz de distância! E, portanto, não podemos nem sequer comentar algo sobre estes atos. Porém por outro lado, nos ensina o Ramban na parashat Lech-Lechá: ” direi a você certa regra, que com ela entenderás os acontecimentos históricos de nossos patriarcas, Avraham Yitschak e Yaakov…Tudo o que aconteceu com nossos patriarcas, é um futuro sinal para seus descendentes. Por isso que a Torá relata detalhadamente os acontecimentos das viagens de nossos patriarcas, assim também como a escavação dos poços, e de todos os outros os casos, pois todos vem nos ensinar sobre o futuro…”.

 

Rabi Yerucham de Mir explica, que o acontecimento de nossos patriarcas, não foram escritos somente para que saibamos o que aconteceu com eles, mas sim para que possamos absorver os ensinamentos  de seus comportamentos, para o nosso cotidiano. Esta é a cobrança de cada Yehudi, que cada um deve almejar o seguinte: quando meus atos alcançarão a ser como os atos de nossos patriarcas…”. Ou seja, todas as lições e ensinamentos oriundas dos atos de nossos patriarcas, devemos almejar que nos sirvam como uma lição de vida para nossos acontecimentos cotidianos.

 

Nesta parashá, Yaakov Avinu nos ensinou a “arte do pedido”. Ele se dirige às nossas sagradas matriarcas, Rachel e Lea, e lhes pede o seguinte (Bereshit 31:3): ” E o Eterno disse a Yaakov: volta à terra de teus pais e a tua parentela, e Eu estarei contigo”. Yaakov esperava esta orientação durante vários anos, após vários anos de sofrimentos e angústias na convivência com seu sogro Lavan, juntamente com todos os bandidos e fraudadores e chega o momento em que D'us lhe ordena que volte ao seu local de origem. Esta notícia não é somente para Yaakov, mas sim para toda sua família. A princípio, Yaakov ao escutar esta ordem Divina, deveria imediatamente abandonar tudo com suas esposas e filhos, “pois foi uma ordem Divina”. Porém ao invés disso a Torá que poupa palavras e escreve somente o estritamente necessário, relata detalhadamente de que modo Yaakov se dirigiu a suas esposas (Bereshit 31:4-5):

 

“E Yaakov mandou a chamar a Rachel e a Lea no campo, onde estava seu rebanho, e ele disse-lhes: Eu vejo que o rosto de vosso pai para comigo não está como ontem e anteontem E o D'us de meu pai esteve comigo” Yaakov não as informou sobre a saída de charan por ser um acontecimento casual. Ele as chama para o campo, um lugar silencioso e tranquilo, para conversar sobre algo que queria que penetrasse em seus corações. Em vez de informar imediatamente sobre a saída para Israel, ele descreve de forma abrangente sobre o sofrimento causado com a convivência perto de Lavan, a injustiça feita em relação ao pagamento de salários e à exploração, mentiras e trapaças cujo pai abusou dele todos os dias. Esta descrição abrangente abrange nove

versículos, com oitenta palavras! Só depois ele diz a elas o mandamento de D'us para retornar à sua terra natal.

 

É preciso entender o por que de Yaakov ter feito todo este contorno para que no final dissesse simplesmente que D'us ordenou que saíssem de charan e fossem para Israel? Será que se caso tivesse dito diretamente esta ordem, Rachel e Lea não concordariam em cumprí-la? Estamos lidando com nossas sagradas matriarcas do Am Yehudi, que com certeza fariam isso com alegria! E além disso, não havia nada de novo em suas palavras! Eles viviam com seu pai trapaceiro, elas experimentaram tudo o que ele disse, portanto, por que é necessário repetir o que eles sabem muito bem?

 

Baseando nestes versículos, nos ensina o consagrado livro Shlá Hakadosh, um básico ensinamento de comportamento entre-pessoal. De Yaakov aprendemos, como pedir pedidos e desculpas. E estas são suas palavras: “quando a pessoa quer algo de seus familiares, é inadequado que os force a cumprir seu pedido e sua vontade, mesmo que ele tem poder e domínio sobre eles. Ele deve tentar atraí-los para o assunto que deseja, de tal modo que a própria pessoa se desperte por conta própria para tal assunto, pois deste modo é muito melhor do que fazer as coisas forçadamente. Veja como Yaakov acrescentou palavras para convencer a Rachel e Lea que saiam de charan com boa vontade, mesmo que D'us havia ordenado sobre esta saída”.

 

Esta sensibilidade de Yaakov com Rachel e Lea, trouxe a resposta que facilitou muito a Yaakov a cumprir este preceito.

 

Assim consta na Torá (Bereshit 31:14-16): “E Rachel e Lea responderam e disseram a ele: Acaso ainda temos para nós parte ou herança na casa de nosso pai Pai?! De certo, estranhas fomos consideradas por ele, que nos vendeu e comeu nosso dinheiro. Pois toda riqueza que D'us separou de nosso pai é nossa e de nossos filhos. E agora, tudo o que D'us te dizer, faze”.

 

O Talmud (Shabat 23) conta sobre a esposa de Rabi Yossef, que acendia as velas de Shabat, bem próximo do anoitecer. Seu marido, Rav Yossef, assim lhe disse: quando o povo de Israel caminhava no deserto, havia uma coluna de nuvem que os acompanhava durante o dia, e uma coluna de fogo que os acompanhava durante as noites. Esta coluna de fogo, sempre chegava antes que a coluna de nuvem tivesse desocupando o espaço para a coluna de fogo. Isto é sinal, que assim devemos nos comportar. Sobre este caso comentou o Rav Chaim Friedlander Zts”l mashguiach da Yeshivá de Ponovits, que ao invés de criticar sua esposa e ordenar que acendesse a vela mais cedo para profanar o Shabat, ele resolveu contar sobre o acontecimento das colunas de nuvem e fogo no deserto, para que ela entenda o que deveria fazer, de modo agradável e tranquilo.

 

O caminho de nossos antepassados, é um sinal para nós, os filhos, para aprender, que a linguagem suave, tons agradáveis, são a fórmula mais certa para manter um “Lar doce lar”.

 

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