O mundo de Teshuva

Sobre óculos e aparelhos auditivos.

“Prezado rabino, você deve ouvir uma história, uma história realmente verdadeira”, disse o taxista, que estava sentado em seu carro. “Em meus olhos eu vi…Prezado rabino… Como se tivesse acontecido hoje…do mesmo modo que eu lhe vejo”
 
“Isto aconteceu na guerra, estávamos no deserto”. No final das lutas, abrimos as tendas para dormir durante a noite. De repente surgiu uma grande serpente venenosa. Venenosa a tal ponto, que a partir do momento que a pessoa é mordida, vai direto aos céus, sem nenhum preparativo. De repente, a serpente começou a escalar sobre nosso enfermeiro Chayim. Logo lhe dissemos, que não deve se mover e nem ter medo, pois deste modo a serpente deixaria-lo brevemente sem fazer nada.
 
Chayim realmente não se moveu e mesmo assim, a serpente continuou subindo. Ela chegou a seu pescoço e posicionou sua feia face a frente da face de Chayim, que se preparou para o pior de tudo, e nós já imaginávamos que em breve já não estaria mais conosco”. Naquele decisivo momento, Chayim sussurrou as palavras de “Shema Yisrael…”, e quanto terminou de recitá-las com bastante intenção, a serpente desceu levemente e largou-o”.
 
Depois deste acontecimento, Chayim voltou ao bom caminho e fez teshuvá!!!- o motorista terminou a sua história.
 
O que você me diz, prezado rabino? Não é um milagre?! Realmente um milagre… e se alguém negar a existência Divina após este milagre, que venha conversar comigo e eu lhe provarei a verdade.
 
“E você, perguntou o Rabino?, você também fez teshuvá após presenciar este milagre?”
 
“Eu?!? “, disse o motorista, “foi um milagre para Chayim e não para mim!!!”. A serpente subiu sobre Chayim e não sobre mim, Shimon. “
 
Muitos eventos passam por nós, ao longo da jornada de nossas vidas, deixando um forte registro em nossas mentes. Alguns são mais fortes e alguns são menos. Um dos fatores que enfraquecem tais registros, é a frequência destes acontecimentos. Os acidentes rodoviários não são menos trágicos do que os atentados terroristas, os homicídios criminais são tão severos como os desastres aéreos, porém a frequência e intensidade destes acontecimentos, causam com que os mesmos não nos influenciem. Em um país em que não há acidentes rodoviários, o acidente será dramatizado  e terá uma extensa reportagem de cobertura, marcando um forte registro em nossas mentes.
 
Outro fator que influencia no registro dos acontecimentos e nossas mentes, é o quanto somos próximos às vítimas. Quanto mais o evento é “próximo” do círculo pessoal, mais próxima será nossa reação emocional ao acontecimento. O índice da proximidade é responsável pela responsabilidade mútua que cada membro do am yehudi, sente pelos outros, mesmo sem conhecê-los pessoalmente. ” Será que haviam judeus no avião que caiu ou o na nave espacial que explodiu?
 
Nesta parashá, Parashat Yitró, encontramos dois personagens com cargos quase idênticos, Yitró e Bilam. Dois líderes espirituais, com situação social das mais elevadas, os dois presenciaram os milagres da saída do Egito. A grande diferença entre os dois, foi exposta na relação de ambos aos acontecimentos ocorridos. As conclusões radicalmente opostas, nos ensinam que o ponto de visão pessoal de cada um deles, é o que molda a filosofia e o comportamento pessoal.
 
A travessia do mar vermelho bateu ondas não só no mar, mas também em terra. O rumor do milagre de dividir o mar, chegou aos ouvidos dos povos da região e a reação foi a seguinte (Shemot 15:15): ” então foram surpreendidos os presidentes de Edom, os ricos de Moav tremeram, e se derreteram todos os habitantes de Canaã…caiu neles temor e medo…”.
 
Esta reação é oriunda pela proximidade do local de acontecimento e da moradia de tais povos, e também pela informação que o povo que causa temor aos povos da região, está se aproximando. Eles não perguntam: “por que D'us faz milagres a este povo?” Em vez disso, eles foram para o mago Bilam, para saber que solução existe para que se livrem deste povo áspero. Em contraste, a conclusão de Yitró, o sogro de Moshe, que era o sumo sacerdote dos deuses de Midian, foi diferente. Ele absorveu o significado dos eventos e decidiu agir.
 
Assim consta na Torá (Shemot 18:1-11): “E escutou Yitró o sacerdote de Midian e o sogro de Moshe, tudo o que D'us havia feito para Moshe e para o povo de Israel, que D'us lhes havia tirado (da escravidão) do Egito. E veio Yitró o sogro de Moshe com os filhos e a esposa de Moshe, ao deserto no qual está estacionado, no sopé da montanha de D'us… agora eu sei que D'us é grande e maior do que todos os deuses”.
 
No passuk está escrito, “E escutou Yitró…”. Perguntam Chazal, que acontecimento ele escutou que o fez vir? Ele escutou a guerra contra Amalek (final da Parashat Beshalach) e a abertura do Mar Vermelho. A grande pergunta é, será que somente Yitró escutou sobre estes acontecimentos? Eis que como o citado acima,  (Shemot 15:15): ” então foram surpreendidos os presidentes de Edom, os ricos de Moav tremeram, e se derreteram todos os habitantes de Canaã…caiu neles temor e medo…”, todos estes povos escutaram sobre estes acontecimentos, então por que a Torá relata somente que Yitró escutou?!?
 
Yitró não deixou que estes acontecimentos fizessem parte de uma rotina diária que não marca impressão em nada, ele concluiu suas conclusões e entendeu, que se D'us abriu o Mar para este povo, é o povo escolhido, portanto, juntou-se a eles.
 
Outro acontecimento dramático ocorreu após a travessia do mar vermelho, foi a outorga da Torá no Monte Sinai. Como os outros acontecimentos, este não foi um acontecimento de rotina, foi um único acontecimento que a Torá prometeu que não haveriam mais acontecimentos como este. No momento da outorga da Torá, o mundo inteiro estava totalmente em silêncio, e todas, mas todas as criaturas desde aves, animais e etc.. escutaram a grande e famosa exclamação: ” EU SOU TEU D'US…”.
 
O silêncio repentino causou pânico. O medo de outra inundação, como houve na época do dilúvio, estava pairando no mundo. Os povos do mundo se voltaram para Bilam ,seu profeta, para que ele desse uma explicação sobre este acontecimento de silêncio repentino.
 
Ele lhes disse que o motivo deste silêncio repentino, era por que D'us estava outorgando a Torá ao povo de Israel.
 
Questionaram as nações do mundo: “isso é está relacionado a nós?”.
 
Respondeu Bilam: “Aparentemente não, pois vocês não são judeus”.
 
Comentaram os outros povos: “Se assim for, que D'us os abençoe com a paz”. Com um suspiro de alívio, eles terminaram o encontro com Bilam dizendo que poderiam voltar à vida normal, pois este acontecimento não é relacionado a eles. O milagre foi feito ao povo judeu!!!
 
Será que eles concluíram que o povo de Israel foi o povo escolhido? Será que passou em suas cabeças algum pensamento de se juntar a este povo? De modo algum. O evento no Monte Sinai foi um evento raro e inspirador, mas não estava ligado a nós.
 
Duas pessoas e duas conclusões diferentes. Yitró se converteu e Bilam voltou a suas magias.
 
Bilam tinha um olho tapado (caolha), não só fisicamente, mas também e principalmente espiritualmente. Ele era caolha, por não ter visto o que Yitró escutou. Enquanto Yitró ouviu e se converteu, Bilam, Bilam viu e ficou “cego”.
 
A pessoa é obrigada a observar os eventos de vida próximos e distantes, freqüentes e não freqüentes, e tirar conclusões.
 
Como o taxista disse? A cobra não subiu sobre mim…ela subiu sobre meu amigo Chayim. Eu sou Shimon, e não Chayim!!!
 
Será que a pessoa deve ser chamada de Chayim para entender, ou basta que se chame Shimon?
 

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